Um filme perdido dentro de si, numa espécie de labirinto pós-moderno de sentimentos, felicidades, medos e sexo. Essa é a minha definição da totalmente não ortodoxa e, mais do que b-r-i-l-h-a-n-t-e comédia romântica "Amor e Outras Drogas".

Contradição? É, pode ser, mas calminha aí que eu explico.

O formato das comédias românticas é muito engessado e talvez seja por isso que não gosto delas. O apelo ao drama que muitas fazem na tentativa de fazer você chorar são artimanhas mais do que ultrapassadas hoje em dia, o que as vezes da a impressão que em determinados filmes as produtoras colocam em cheque a inteligência do público alvo, que está cada vez mais exigente e querendo ser surpreendido. Para que uma história realmente consiga comover, não basta só carinhas bonitas que pros espectadores pareçam artificiais (e são) sem que haja a construção dos personagens e nesse ponto o "Amor e Outras Drogas" acertou em cheio, mas exageraram nos elementos em torno da trama de Maggie e Jamie, o que por muitas vezes, deixou perdido o que realmente importava na história. O problema não está na fórmula, mas sim que colocaram coisas demais no filme.


Aqui, Jake Gyllenhaal (O Segredo De Brockback Mountain) é Jamie Randall, um sedutor incorrigível do tipo que perde a conta do número de mulheres com quem já transou. Após ser demitido do cargo de vendedor em uma loja de eletrodomésticos, por ter seduzido uma das funcionárias, ele passa a trabalhar num grande laboratório da indústria farmacêutica. Como representante comercial, sua função é abordar médicos e convencê-los a prescrever os produtos da empresa para os pacientes. Em uma dessas visitas, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de mal de Parkinson. Inicialmente, Jamie fica atraído pela beleza física e por ter sido dispensado por ela (tipico pra nós homens), mas aos poucos descobre que existe algo mais forte. Maggie, por sua vez, também sente o mesmo, mas não quer levar adiante por causa de sua doença.

Como mencionei antes, o legal mesmo foi acompanhar como o Jamie passou a entender muito mais sobre si mesmo enquanto descobrimos aos poucos o por que de tamanha aversão por parte da moça ao conceito de romance. Quem disser que não se identificou com nenhum momento do filme está sendo um babaca propositalmente. Sentem o cheiro da polêmica e da discussão calorosa do filme? Vivemos nossas vidas numa permanente "ousadia calculada", que Maggie fez questão de deixar de lado pelo medo de se apaixonar e ser abandonada. Que atire a primeira pedra quem nunca pensou assim ao menos uma vez tentando suprimir a vontade de estar com alguém ou, que se arrependeu por algum momento de deixar de viver uma situação seja ela de amor pleno, ódio, indiferença e porra, talvez a própria vida afinal, por medo. No decorrer da película vemos isso latente em ambos os lados, seja pela parte de Jamie o gélido "don juan" que demora pra se resignar e que não quer compromisso, mas que em dado momento chora, ouve conselhos, briga, e por fim, não resiste em se apaixonar (a cena em que ele quase passa mal pra conseguir dizer que ama ela é assaz)... ou por parte da Maggie, que sabe como ninguém que a chatice tira toda a graça da mulher, se tornando assim o tipo que todo homem procura, mas ignora qualquer ligação estável com alguém por medo, vivendo uma espécia de manual perspicaz próprio em busca apenas de gratificação imediata (aqui tratada pelo sexo casual e sem compromisso), mas sem deixar de lado a vaidade e o cuidado com a beleza, características femininas por excelência. Voilá, uma comédia romântica FODA!

As cenas de sexo fazem muito sentido, até por que foi o sexo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, com uma importantíssima diferença: as cenas de nudez da maravilhosa Anne Hathaway estão muito naturais e não são tratadas como algo reprimido ou algo forçado que provoque incomodo. Ela está solta e isso deixa mais ainda visível a quimica entre ela e Jake Gyllenhaal (pra quem não se lembra, eles eram casados em O Segredo de Brokeback Mountain). As melhores cenas pra mim, são as em preto e branco em que temos a visão dos protagonistas, enquanto se declaram. Com tudo isso, é de de esperar que o destaque óbvio no elenco seja de Anne Hathaway e se esse ano não ouvesse uma competição tão acirrada, seria de se esperar que ela recebesse uma nova indicação ao Oscar de melhor atriz.



Na adaptação do livro Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman“, escrito por Jamie Reidy, o diretor Edward Zwick vai a fundo na relação existente entre os médicos e seus pacientes mostrando a indústria farmacêutica em 1996/1997 de forma nua e crua, além das pessoas com Parkinson e isso é um atrativo e tanto, mas eu acredito que seria mais interessante se isso tivesse sido feito em um filme à parte, pois há certos desfechos que, por muitas vezes, dão sensação que estamos vendo dois filmes: um com uma história de duas pessoas que se apaixonam, e outro sobre o mundo dos remédios. Foi aí que ele pecou. O excesso de referências à decada de 90 também foi um vacilo, mas não tão grande.

"O Amor e outras drogas" é um filme muito bom e certamente vai agradar, mas mais do que isso, vai cativar e fazer pensar todos que assistirem (sem excessões) sejam eles homens que por um motivo ou outro se tornam moderadamente ou exageradamente sem culhões com os tombos que a vida dá, e acreditam que é muito mais fácil ir à cabarés apenas pra se roçar nas quengas do que realmente se entregar à uma pequena, ou as mulheres que se acham auto-suficientes, super bem resolvidas, mas no fundo são e chatas pra cacete e que se realmente fossem espertas, saberiam que toda mulher deveria ser um pouquinho Maggie Murdock.

0 Comentários:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails