O cantor e compositor baiano Raul Seixas, em sua carreira gravou um repertório de mais de duzentas músicas. Na maior parte de suas letras Raul usou o artifício do duplo sentido. No período da ditadura, varias de suas canções foram censuradas por exaltarem ideais de liberdade, ocultismo, críticas religiosas e ao governo autocrático, assim como aranhas.
A letra selecionada para a análise foi a música “Sapato
A letra é trabalhada com uma analogia, do que era imposto ao autor pelos seus pais, mas se encaixa perfeitamente às normas e preceitos impostos pela sociedade ao indivíduo. Na primeira estrofe o “Sapato apertado” que seu pai lhe dava, na realidade seria o futuro que os pais traçam para os filhos, julgando ser o melhor para eles. E os filhos, por sua vez aceitam discordando.
Na segunda e na quarta estrofe, refrão, Rauzito desabafa claramente sua indignação à repressão que lhe é imposta. Propõe uma igualdade de idéias, dizendo que só haveria um entendimento se ambas as partes compreendessem e respeitassem suas vontades distintas.
Na terceira estrofe, o filho desafia o pai, argumentando que pode traçar seu próprio destino sozinho “...Eu vou escolher meu sapato, Que não vai mais me apertar...”. Na ultima estrofe, consciente de suas vontades, percebe que seu futuro só se realizaria de sua maneira, longe de casa. Despede-se do pai sem rancor “... Eu quero partir sem brigar...”, com o pensamento de que só o tempo iria trazer entendimento aos seus pais.